segunda-feira, 24 de maio de 2010

Diferença
Henriqueta Lisboa

Para os outros encontro frases suaves,
Tons em surdina de violino ao luar.
Para ti tenho apenas ritmos graves,
Plangências rudes, a increpar
No mesmo entorno bárbaro do mar.

Souberam outros que ternura
Pode abrigar o coração que é teu.
Tu tens provado o fel, tens visto escura
A estrada por onde andas à procura
Daquele amor que desapareceu.

Diante dos outros tudo é flor e graça.
Diante de ti meu olhar se embaça,
Tal como o olhar dos moribundos
Ou as águas dos rios, mais profundos
Depois que a tempestade passa.

Se para outros, sempre hei de ser boa,
E nunca para o que escolhi,
Antes amasse qualquer um – perdoa! –
E tivesse a alma clara para ti.

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