sábado, 19 de setembro de 2009


Constância do Deserto
Cecília Meireles

Em praias de indiferença
navega o meu coração.
Venho desde a adolescência
na mesma navegação.
- Por que mar de tanta ausência,
e areias brancas de tão
despovoada inconstância,
de penúria e de aflição?
(Triste saudade que pensa
entre a resposta e a intenção!)
Números de grande urgência
gritam pela exatidão:
mas a areia branca e imensa
toda é desagregação!

Em praias de indiferença
navega meu coração.
Impossível, permanência.
Impossível, direção.
E assim por toda a existência
navegar navegarão
os que têm por toda ciência
desencanto e devoção.


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